quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Operação Condor

Essa é uma discussão interessante. Acompanho e pesquiso estes casos de perto e vejo como é complicado e delicado se falar disso no Brasil. O sofrimento das famílias e a falta de informações ecoa no vazio do possível esquecimento. A esperança que todos mantinham da abertura total dos arquivos da ditadura no governo Lula foi por água abaixo. O pouco que abriu foi possível reparar grandes erros, mas ainda falta muito para punirmos os culpados.

Essa é uma briga que todos deveriam conhecer e "comprar".

Recomendo o blog do Celso Lungaretti, que é uma pessoa que vivenciou isso tudo de perto e que comprou essa briga. Indico também o seu livro, "Náufragos da Utopia".
Blog: http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
O artigo abaixo é dele.





A ITÁLIA QUER PUNIR A OPERAÇÃO CONDOR. O BRASIL, NÃO.
Celso Lungaretti (*)


“Às 18 horas do dia cinco de dezembro de 1973, meu pai
Joaquim Pires Cerveira (...) se dirigiu a um encontro com seu
companheiro de Organização (...) João Batista de Rita Pereda.

“Atropelado e seqüestrado com Pereda no centro de Buenos Aires
pela Operação Condor, foram entregues à ditadura brasileira.

“Foi assassinado em 13 de janeiro de 1974 no DOI-Codi da Barão de
Mesquita, no Rio de Janeiro, tornando-se um desaparecido político.

“Dali para frente, a vida se resumiu na busca da verdade e dos seus
restos mortais.”

(Neusah Cerveira, jornalista, economista e geógrafa)

A Justiça italiana acaba de pedir ao governo do Brasil que colabore no interrogatório, prisão e extradição de brasileiros envolvidos na Operação Condor, um esquema de colaboração informal que sete ditaduras sul-americanas mantiveram durante o período 1973/1980 para perseguir, aprisionar e atentar contra opositores que, exilados, estavam teoricamente fora do alcance de suas garras.

Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai foram as nações que facilitaram a atuação extraterritorial de agentes da repressão, na maioria das vezes capturando “subversivos” para serem secretamente recambiados a seus países de origem, supliciados em centros clandestinos de tortura e depois executados.

A ocultação dos cadáveres, para que não restassem indícios dos crimes cometidos, era o desfecho habitual dessas operações. Um documento secreto da Força Aérea Brasileira, datado de 1977, revela que se chegou a lançarem corpos no Rio La Prata, mas essa prática teve de ser abandonada porque estava “criando problemas para o Uruguai, como a aparição de cadáveres mutilados nas praias”, passando-se então a utilizar “fornos crematórios dos hospitais do Estado (...) para a incineração de subversivos capturados”.

Foi, enfim, uma alternativa hedionda a que as ditaduras recorreram para evitar os trâmites demorados dos processos de extradição e as garantias que o Direito internacional prescreve para os extraditados.

Um caso célebre no Brasil foi o seqüestro, em 1978, dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Díaz, vindos a Porto Alegre, com seus dois filhos, para denunciar os crimes da ditadura do seu país. Os quatro foram capturados e entregues às autoridades do Uruguai. Se a revista Veja não noticiasse, dificilmente teriam sobrevivido.

Só no ano 2000 Universindo Díaz sentiu-se suficientemente seguro para relatar o ocorrido. Segundo ele, os espancamentos começaram já no apartamento em que ele foi capturado e prosseguiram na sede do DOPS: "Nos bateram brutalmente. Nos colocaram no que chamam no Brasil de 'pau-de-arara' – dependurados do teto, pelados, nos deram choques elétricos, água fria, golpes, e assim nos foram interrogando durante horas e horas. Havia uma espécie de divisão internacional de trabalho – os brasileiros golpeavam e os uruguaios nos interrogaram".

O episódio de maior repercussão internacional foi a explosão de uma bomba no carro do ex-embaixador chileno Orlando Letelier, em pleno bairro diplomático de Washington, no ano de 1978. O atentado cometido por agentes da repressão política do Chile, a Dina, resultou na morte de Letelier e de sua secretária, causando tanta indignação nos EUA que o país deixou de apoiar a ditadura andina.

ATRASO, TIMIDEZ, IMPUNIDADE – A punição dos responsáveis por esse período negro da história sul-americana está acontecendo com atraso e timidez, face à enormidade dos crimes cometidos. Muitos carrascos morreram antes de responderem por suas atrocidades. Mas, pelo menos, sinaliza para os pósteros que nem sempre as regressões à barbárie ficam impunes.

O Uruguai condenou à prisão o ex-ditador Gregório Alvarez, em cujo governo “desapareceram” 20 cidadãos uruguaios aprisionados na Argentina e repatriados ilegalmente, não aceitando sua alegação de que desconhecia a existência da Operação Condor.

A morte livrou o antigo ditador chileno Augusto Pinochet de cumprir a merecida pena de prisão pela autoria de nove seqüestros e um homicídio, mas seu ex-chefe de Inteligência Manuel Contreras não escapou: foi condenado a 15 anos de detenção por ter planejado o assassinato de Letelier e está preso.

A Argentina também está prestes a julgar o ex-ditador Rafael Videla e 16 cúmplices, por crimes contra a humanidade.

E, agora, a juíza italiana Luisanna Figliolia expediu um mandado de prisão contra 140 pessoas suspeitas de participação na Operação Condor, dentre elas 11 brasileiros, 61 argentinos, 32 uruguaios e 22 chilenos. O caso tramita desde 1999, a partir de denúncias apresentadas por parentes de 25 italianos que desapareceram sob regimes militares na América Latina.

O ministro da Justiça Tarso Genro logo descartou a extradição, por considera-la “inconstitucional”, dos acusados brasileiros. Ficou implícito que, na opinião do ministro, dificilmente eles serão punidos, embora Tarso vá tomar as providências burocráticas rotineiras, ao receber o pedido das autoridades italianas.

O Exército, por sua vez, informou à UOL que não vai se pronunciar oficialmente sobre o caso, que está sob tutela do ministério da Justiça por envolver "a soberania brasileira". Essa preocupação com a soberania aparentemente não existia quando se franqueava o território nacional para a caçada a casais inofensivos e suas crianças.

Então, para nosso opróbrio, só nos resta concordar com o procurador da República italiano Giancarlo Capaldo: "Esse processo nasceu na Itália porque os países unidos em torno da Operação Condor decidiram não abrir investigações sobre o assunto. A Itália está fazendo o possível para evitar a impunidade e para que operações como essa não voltem a acontecer”.
* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

Todos acreditam na "imparcialidade da revista semanal"?

Nassif: diretor da 'Veja' faz da revista um factóide nas mãos de Dantas

Comentário desta quarta-feira (26) no blog de Luis Nassif reproduz um trecho da revista Veja desta semana onde a revista admite ter publicado matéria inverídica sobre as supostas contas bancárias no exterior por “figurões da República”. Nassif alerta que a revista se tornou um instrumento ativo nas disputas empresariais e jurídicas do empresário Daniel Dantas através de seu diretor de redação, Eurípedes Alcântara. O comentário de Nassif gerou polêmica na web entre internautas e o reconhecido jornalista do grupo Abril, Reinaldo Azevedo.

Leia abaixo à íntegra do comentário de Nassif.

Jornalismo da Veja

Da Veja desta semana

Em maio de 2006, Veja revelou que o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, tinha em mãos uma lista com contas bancárias supostamente mantidas no exterior por figurões da República. Encomendada por Dantas ao americano Frank Holder, ex-espião da agência de investigações Kroll, ela seria uma evidência do enriquecimento ilícito das autoridades nela mencionadas – inclusive o próprio presidente Lula. A reportagem de Veja teve acesso à lista, sob a condição de que o nome de Dantas não fosse divulgado. Uma perícia contratada pela revista revelou, no entanto, diversas inconsistências no material, que tornaram impossível comprovar cabalmente a inexistência das contas sem ao mesmo tempo desmentir sua existência. Diante de sinais de que Dantas usava a lista como elemento de chantagem em uma disputa empresarial com fundos de pensão de estatais, Veja revelou sua existência e apontou o banqueiro como seu autor – fato, claro, negado por Dantas. Além disso, a revista enviou, na ocasião, toda a papelada que reuniu sobre as supostas contas ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que, efetivamente, investigou o caso.

Comentário

Repito o que escrevi durante a semana. O contato de Veja com Daniel Dantas era e é o diretor de redação Eurípedes Alcântara.

Durante dois anos pelo menos há inúmeras evidências de que Veja foi instrumento ativo nas disputas empresariais e jurídicas do empresário. E continua nesse jogo, apesar de manobras de despiste, como essa matéria – só agora publicada, depois do fato ter ocorrido e do Blog ter chamado a atenção para as ligações entre Eurípedes e Dantas.

A estratégia do diretor de redação consiste em atacar Dantas em questões acessórias, para melhor poder apoiá-lo em temas essenciais, como a repercussão que deu a esse caso da intérprete. Depois, cercar-se de guarda-costas que atuam como fogo de barreira, para desviar o foco dele. No caso do falso dossiê, foi obrigada a revelar a fonte, porque, depois de apurada a falsificação, não havia como fugir ao tema. Mas o fez da forma mais dúbia possível.

Justamente a perda do critério jornalístico foi que transformou Veja em território livre, manobrado por Eurípedes e Mário Sabino. É como a empresa que passa a usar caixa 2 e acaba perdendo o controle sobre os atos de seus executivos, por ter aberto mão dos instrumentos formais de controle.

Quando se seguem critérios jornalísticos, basta alguma reportagem fugir do critério para acender a luz amarela. Com a perda do referencial, perdeu-se igualmente o controle e conferiu-se aos diretores o direito de matar – burlando inclusive os controles internos.

É importante que a Abril perceba esse jogo, porque o que está em questão é a própria imagem da editora. É simples pegar o fio da meada. É só juntar as matérias sobre o tema publicadas nesse período.

Repito, tudo isso foi feito em contato direto de Dantas com Eurípedes. Mas como é período natalino, vamos deixar passar as Festas para aprofundar o tema.

Agressividade

Os comentários do jornalista Luis Nassif parecem ter tocado no cerne da questão sobre a duvidosa credibilidade da revista. Nesta quarta, Reinaldo Azevedo, reconhecido defensor do grupo Civita, publicou pelo menos três comentários extremamente agressivos na tentativa de desmoralizar Nassif em seu blog. Nenhum deles, porém, toca no caso da matéria factóide plantada por Dantas ou contra-argumenta as afirmações de Nassif.

Entre os comentários de Azevedo, está o de que Nassif “é motivo de piada hoje em qualquer curso de economia. Por isso virou biógrafo de Ronan Maria Pinto”, escreveu. Outros comentários trataram de baixar ainda mais o nível em relação a Nassif. “Ele se candidatou a conselheiro econômico do governo Lula, servindo na coluna de José Dirceu, o homem que inspirou Aguinaldo Silva na novela Duas Caras”, diz Azevedo.

Em outro comentário, o jornalista remunerado pelo grupo Abril diz que Nassif “é tão ridículo, com seus delírios bisonhos de grande pensador econômico.”

Reação

Diante da polêmica, os internautas manifestaram seu repúdio a Azevedo. “Jornalista Nassif, dei uma olhada no blog do senhor Reinaldo Azevedo e fiquei chocada. Não sabia que a coisa estava nesse (baixo) nível. Lembrei-me dessa frase de Jean Jacques Rosseau : ‘As injúrias são as razões daqueles que não tem razões’”, escreveu Spassos-RJ.

Outro internauta não teve medo de rasgar críticas ao jornalista da Veja. “Fui olhar o blog do pistoleiro meliante [Reinaldo Azevedo]. É de rir-se, mas também de lamentar. Rio porque o porco não apresenta um argumento sequer. Nenhum. Só é gritaria, esculhambação, tentativa de te desqualificar. Mas o que dá engulhos, o que enoja mesmo, é que se percebe que a única maneira de ‘dialogar’ com o Lacerda carente de testosterona é concordando com ele. Não há espaço pra qualquer objeção”, escreveu João Vicente.

O mesmo internauta interrogou Nassif sobre sua simpatia ao governador tucano José Serra. “Respeito sua opinião e sei que seus motivos estão muito acima dos motivos venais que movem o Cérbero. Mesmo assim, companhia lastimável, não?”, disse João. “Estou repensando. Quem se vale de um esgoto como esse, é porque mudou muito”, respondeu Nassif.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

CPICBFPAN - Siglas que não se juntam

Parece fácil conseguir arquivar CPI´s no Brasil, ainda mais quando são ligadas ao esporte. Semanas atrás a CPI que propunha investigar as ações ilegais da CBF foram todas arquivadas em uma desistência em massa de deputados e senadores. O curioso é que a imensa maioria dos deputados desistentes é de Minas Gerais, mais de 65% do total. E as coincidências não param por aí, o tão desejado jogo entre Brasil e Argentina da eliminatórias para a Copa do Mundo de futebol será disputado no Mineirão, e ainda certamente teremos grandes jogos aqui em Belo Horizonte em 2014. Parece que a amizade do senhor Ricardo Teixeira com o governador Aécio Neves é fiel.


A CPI do Pan foi arquivada. Também, com grandes medalhas conquistadas quem vai querer se preocupar com investimentos ilegais e super faturamentos? Para que investigar a CBF se teremos uma tão sonhada Copa do Mundo no Brasil?


Pão, circo e silêncio para todos!




Cesar Maia consegue evitar CPI do Pan mais uma vez
Terceira tentativa de instalação da comissão criada para apurar denúncias de má-gestão financeira dos Jogos Pan-Americanos é esvaziada pela base governista. Investigações seguem na Polícia Federal e no Tribunal de Contas da União.
Maurício Thuswohl - Carta Maior


RIO DE JANEIRO – Mais uma tentativa, talvez a última, de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito criada para apurar as denúncias de má-gestão dos recursos financeiros destinados à organização dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro foi anulada pela base governista na Câmara dos Vereadores. Atendendo a um pedido do prefeito Cesar Maia (DEM), os parlamentares da base indicados para compor a CPI esvaziaram a sessão de abertura dos trabalhos, marcada para a última quarta-feira (21), e deixaram sozinho no salão do Cerimonial da Câmara o vereador Eliomar Coelho (PSOL), proponente e presidente da comissão.

O esvaziamento da sessão não foi exatamente uma surpresa, já que esta era a terceira tentativa de instalação da CPI do Pan feita por Eliomar. Nas outras duas, a máquina governista agiu para impedir a seqüência dos trabalhos, pois três dos cinco vereadores que compõem a CPI atuam fechados com Cesar. A primeira tentativa de instalação da comissão aconteceu em junho, pouco antes dos Jogos, mas foi rechaçada sob o argumento de que “mancharia a imagem da cidade e comprometeria a realização do Pan”.


A segunda tentativa aconteceu em agosto, após o término dos Jogos. Dessa vez, a maioria governista decidiu adiar a instalação até que fosse concluído um relatório produzido por um outro grupo de trabalho parlamentar destacado para acompanhar o Pan. Em ambas as ocasiões, a CPI do Pan foi adiada pelo placar de 3 a 2. Além de Eliomar, votou nas duas vezes pela instalação da comissão a vereadora Patrícia Amorim (PSDB). Votaram contra, nas duas vezes, os vereadores Luiz Guaraná (PSDB), Nadinho de Rio das Pedras (DEM) e Carlo Caiado (DEM).


Curiosamente, ninguém, além de Eliomar, apareceu na terceira tentativa. Nem mesmo Patrícia Amorim, ex-atleta pan-americana que defendia ardorosamente a criação da CPI do Pan. A assessoria da vereadora informa que, no dia da instalação, Patrícia estava envolvida com as investigações sobre a morte do jogador de basquete norte-americano Tony Lee Harris, encontrado morto na cidade de Formosa (GO) após um suposto suicídio.
O vereador Nadinho de Rio das Pedras, mesmo que quisesse, também não poderia ter aparecido, pois na quarta-feira (21) era dado como foragido pela polícia. Inspiração para o personagem Juvenal Antena - interpretado por Antônio Fagundes na novela “Duas Caras” da TV Globo - Nadinho é acusado de envolvimento no assassinato do inspetor da Polícia Civil Félix Tostes, que dividia com ele a liderança comunitária na favela de Rio das Pedras, copiada na ficção pela favela da Portelinha.


Luta desigual
Carlo Caiado é uma peça firme da base governista. Luiz Guaraná não tem ligação política direta com Cesar Maia, mas é considerado o braço-direito do secretário estadual de Esportes, Eduardo Paes, agora no PMDB, que também se empenha contra a CPI do Pan e conta com a benção do governador Sérgio Cabral Filho. O resultado desse esvaziamento é que a CPI não mais será instalada este ano. Talvez não o seja nem mesmo no ano que vem: “É uma luta desigual”, resume Eliomar Coelho.


Todo o esforço político de Cesar para impedir a abertura da CPI do Pan, na avaliação de Eliomar, indica que o prefeito “tem de fato algo a esconder” sobre a gestão financeira dos Jogos: “Se tudo estivesse limpo e se os Jogos Pan-Americanos tivessem sido administrados de forma responsável, o prefeito não temeria tanto a abertura da CPI. Queremos apurar se houve malversação das verbas. O Ouro do Pan não foi para os atletas, isso eu garanto”, diz o vereador do PSOL.


Denúncias de superfaturamento
Antes do Pan, a Prefeitura do Rio e o Comitê Gestor dos Jogos Pan-Americanos (CO-Rio) estimavam em R$ 400 milhões o custo total das obras necessárias à realização das competições. Esse, no fim das contas, acabou sendo o valor gasto somente em uma das obras: o Estádio Olímpico João Havelange, orçado inicialmente em R$ 170 milhões. Segundo o publicado no Diário Oficial do Município, o custo total do Pan foi de R$ 1,2 bilhão. Parlamentares da oposição, no entanto, estimam que ele possa ter ultrapassado os R$ 3 bilhões.


As denúncias também apontam para o esquema de venda de ingressos para as competições do Pan. As irregularidades cometidas, segundo a oposição, vão desde a venda de ingressos em duplicidade até a venda de ingressos para “torcedores-fantasmas”, passando por falsificação de ingressos e por falhas na entrega dos ingressos comprados pela internet. Em alguns casos notórios, como nas semifinais e finais do vôlei e do basquete, os ginásios tiveram lotação muito menor do que indicava o número de ingressos anunciados como vendidos.


Aparentemente esgotadas as iniciativas pela CPI do Pan na Câmara dos Vereadores, resta aguardar a conclusão das investigações sobre as eventuais irregularidades cometidas pelo Comitê Gestor dos Jogos, que estão sendo realizadas pela Delegacia de Crimes Financeiros da Polícia Federal em parceria com o Ministério Público. Outra investigação corre no Tribunal de Contas da União (TCU), que já chegou a determinar a suspensão de todos os pagamentos relativos aos convênios e contratos firmados entre uma das empresas fornecedoras de materiais, o Ministério dos Esportes e os governos estadual e municipal do Rio.




Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

" War in Rio "

"O objetivo do projeto é gerar uma discussão através de uma proposta cínica de diversão.

Pegando carona no fenômeno de massa ‘A Tropa da Elite’, a idéia é perguntar ao cidadão carioca se ele acha que esse tipo de entretenimento combina com pipoca ou com uma reflexão profunda sobre a realidade de sua cidade.

Por outro lado é também um jogo bem planejado e realizado: uma paródia irresistível para os amantes do clássico e politicamente incorreto passatempo de guerra. No lugar de invadir Moscou, conquistar a África ou aniquilar os exércitos brancos, que tal invadir a Cidade de Deus, conquistar a Baixada ou eliminar o Comando Vermelho?

War in Rio é reflexão e entretenimento canalha".





Assim se define o "War in Rio" no blog de seu idealizador, Fábio Lopez.
Se a idéia era gerar polêmica e discussão, com certeza ela foi atingida. Comentários na grande mídia e pela internet afora não faltam. Embalado na onda e no sucesso de "Tropa de Elite", o que se espera é que gere discussões e acima de tudo, atitudes acerca da violência urbana no Rio de Janeiro e em todo o país.

Vale a pena conhecer o blog: www.jogowarinrio.blogspot.com




quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Gênio do samba

Convite a todos.

Já está em vários cinemas do Brasil, o longa metragem
" Noel - Poeta da Vila " que retrata a vida e obra deste grande nome da música brasileira.
Se não me engano, em Belo Horizonte, estréia no próximo dia 30.
Irei assistir e relato posteriormente aqui no blog.

Abaixo o trailler oficial do filme.


terça-feira, 20 de novembro de 2007

Charge





Charge de Bessinha para "A Charge Online"
www.vermelhor.org.br

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A farsa é de quem?

Me lembro bem. Era domingo quando ouço minha mãe chamar e me mostrar o que estava estampado na capa da revista Veja naquela semana. "Che, a falsa do herói". Foi um misto de sensações que transpunha raiva, desprezo e indagações do tipo: nossa, não tem ninguém mais para atacarem? Agora partiram para os nossos ícones?
Fui tentar ler a reportagem com um saco de vômito ao lado. Consegui chegar ao final. Meu Deus, quando "baboseira" e “verdades” sem contexto algum. E o pior, tentaram fundamentar a matéria sensacionalista e cretina na biografia de Jon Lee. Minha sensação era que "o tal Diogo" não havia lido sequer uma linha da biografia.

Bom, o tempo passou, algumas manifestações contrárias, muitas outras não... até que me deparo com esta carta abaixo, desmoralizando e tirando qualquer credibilidade da reportagem, se é que existia algo que se pudesse acreditar. Eles tentam, e muitas vezes conseguem manipular muitas coisas e pessoas, mas por favor, não duvidem da capacidade de indagação e questionamento do povo.

Não lembro de quem era a frase, mas lembro do Prof. Moisés que sempre me dizia: " Você pode enganar todos por um tempo. Você pode enganar alguns o tempo todo. Mas nunca enganará todos por todo o tempo ".

Tirem suas próprias conclusões.





O que o biógrafo de Che escreveu para o jornalista da 'Veja'

O repórter Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, foi procurado há umas semanas pelo também repórter Diogo Schelp, da Veja. O objetivo era uma entrevista curta para a composição da reportagem que saiu na revista a respeito dos 40 anos da morte de Guevara.
A própria revista Veja, na reportagem descreve o livro de Anderson como “a mais completa biografia de Che”.

Anderson respondeu a Diogo mas acabou não sendo procurado. Na semana passada, o veterano repórter de guerra da New Yorker teve acesso e leu a reportagem da Veja. Foi sua a decisão de tornar pública esta resposta a Schelp, que começou a circular por email entre os jornalistas brasileiros.

A original é em inglês — esta que segue é uma tradução:

Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu e-mail. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hipereditorializada, ou uma hagiografia ou — como é o seu caso — uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei por pele e osso na figura supermitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é.

Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista.

No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa-fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,

Jon Lee Anderson.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

" A criação "



Esta foto diz muito, é extremamente representativa e dispensa demais explicações, fala por si só.



* foto utilizada na campanha eleitoral para presidente em 2006

fonte: www.pt.ogr.br

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Fracassei

Este vídeo é ao mesmo tempo engraçado e constrangedor.
É o retrato do fracasso que foi e está sendo o movimento político e facista, velado e blindado pela direita, financiado pela Philips, apoiado pela mídia de massa e intitulado de Cansei.

Poderiam mudar o nome para: "Fracassei".


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A classe da média

Este vídeo é um pouco antigo, mas na minha opinião resume muito bem algumas coisas que acontecem por aqui.



segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Social Futebol Clube

O que faz uma pessoa apaixonada?













Várias loucuras talvez seja a resposta mais adequada. Ao longo da sua paixão, o apaixonado chora, grita, sorri, exagera, extrapola e sai de si. A paixão aumenta, diminui, mas nunca acaba. Nunca!

Somente em um caso a paixão e o amor são a mesma coisa: no futebol. Elas se confundem ao se tentar explicar.

O amor pelo futebol começa cedo, desde menino, correndo atrás da bola, que nem sempre é redonda, chutando para um gol, que por muitas vezes é imaginário, assim como os jogadores, juiz e regras. O que importa naquele momento é o seu jogo, suas regras e a sua vitória.

A criança cresce ouvindo que moramos no “país do futebol”, ouve seu pai dizer com orgulho que o time dele tem que ser o seu, e que é, sem sombras de dúvidas, o melhor time do mundo, mesmo que seu Tio diga o contrário.

Na escola, a disciplina mais importante e aguardada é a Educação Física. E coitado do professor que ouse por um dia sequer, mencionar a palavra Voley.

Daí em diante o dever do pai está feito, ele se sente orgulhoso em ver seu filho, um fanático torcedor do seu clube e camisa 10 do time da rua debaixo, nas horas vagas.

O Futebol é social, em todos os sentidos existentes. Em cada canto deste país tem uma criança pulando atrás de uma bola, se divertindo, discutindo escalações e pleiteando um lugar ao sol.

Para ser um bom jogador de futebol basta ter alegria, paixão e imaginação. Se tornar profissional é apenas um detalhe perto da importância de ser torcedor e peladeiro. Deixa que eles façam o espetáculo, nós sabemos imaginar, ousar e ser campeões.


“O futebol é a coisa mais importante dentro das menos importantes”.


Bom jogo!


* as fotos utilizadas neste post foram retiradas do site Flickr http://www.flickr.com/people/beija-flor/. Fotógrafo: Carf.


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pecado capital

Texto publicado hoje no site vermelhor.org.br.
Recomendo também o blog do Mino, citado no texto: www.blogdomino.blig.ig.com.br

Boa leitura!



Não há dinheiro que nos compre', diz 'CartaCapital' à Globo


A Rede Globo e a CartaCapital trocaram alfinetadas nos últimos dias. Os desentendimentos surgiram a partir de uma pesquisa publicada recentemente pela revista comandada por Mino Carta. Em meio a 1200 empresários consultados, a Globo ficou em 20º lugar na pesquisa de empresas mais admiradas do país.

A partir do resultado obtido, a publicação propôs à empresa dos Marinho espaço publicitário para divulgar a colocação alcançada. O saldo foi o seguinte slogan: "De tanto nos investigar, a CartaCapital acabou descobrindo o que você já sabia".

A equipe da publicação considerou o anúncio ofensivo e vetou a veiculação. Em seu blog, Mino Carta, diz que uma carta foi enviada ao diretor de Propaganda da Central Globo de Comunicação, José Land. Explicou que a intenção do texto era demonstrar que "CartaCapital investigou em vão certas situações a envolver as Organizações Globo. Tentativa obviamente mistificadora."

A Globo não deixou por menos e alfinetou de maneira sarcástica. Por meio do diretor da CGCom, Luís Erlanger, rebateu com a seguinte declaração: "Só achamos que uma revista que vive em campanha contra a Globo talvez acolhesse a nossa criatividade. Quer dizer que, apesar de tudo que eles condenam, o nosso dinheiro é bem-vindo?".

A tréplica ficou por conta de Mino Carta. Novamente em seu blog, o jornalista disse que todas as empresas classificadas na pesquisa foram contatadas para divulgar, por meio de publicidade, a respectiva colocação na lista. E, de maneira contundente, esclarece que o bom resultado obtido entre as marcas não é parâmetro nacional.

"Não se tome, porém, o bom resultado obtido pela Globo como demonstração de apoio popular. Não negaríamos espaço a um anúncio que valorizasse o desempenho sem ofender o veículo disposto a hospedá-lo. E se a questão é o dinheiro, não há quantia que nos compre", reagiu o jornalista.




Fonte: www.vermelho.org.br

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sansão pós moderno

Esta matéria retrata um pouco o post anterior.



Cabelo de Che será leiloado nos EUA

Mechas de cabelo de Ernesto Che Guevara cortadas pelo oficial da CIA Gustavo Villoldo serão leiloadas hoje nos Estados Unidos, informou a BBC. Elas são parte de um lote que inclui fotos de Che morto e impressões digitais recolhidas após a sua morte, na Bolívia, há 40 anos.

O leilão, que deve ocorrer em Dallas, suscitou protestos por parte dos admiradores do revolucionário argentino, que é considerado um ícone da esquerda. Já seus críticos o acusam de ter assassinado brutalmente seus inimigos. O lance mínimo para a compra do lote será de US$ 100 mil.

O leiloeiro Tom Slater alegou que Villoldo estava insatisfeito com o status de ícone que Che acabou ganhando ao longo do tempo. "Ele não gosta do fato de Che ter se tornado um ídolo e está impaciente para acabar com essa história", disse o leiloeiro.


Redação Terra


Veja além do plin plin...

O conceito de massa de manobra é aplicado quando alguém, através de algum meio, consegue manipular a opinião pública ao seu favor. Este conceito, parece cair como uma luva não só no nosso país, mas em vários países da América Latina e no mundo. É a busca incessante da "revista semanal" em desmistificar ícones, ou no constante ataque ao governo de forma velada do pessoal do "plin plin". Os ataques são de todos os lados, muito bem planejados e articulados para favorecerem a única forma correta de ser, a deles. É preciso sair do senso comum e buscar informação de verdade, imparcial e correta, para tanto, é preciso enxergar "além do que se vê".

Abaixo um bom texto sobre.

Chávez e a mídia oligárquica

Ao não renovar a concessão da RCTV, Chávez ganhou tempo. Mas o problema maior continua, permanente, que é a vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.

Bernardo Kucinski

Será mesmo que Chávez cometeu um erro de cálculo ao não renovar a concessão da RTCV, como diz o jornalista Teodoro Petkoff, na sua entrevista a Gilberto Maringoni, nesta Carta Maior? Pode ser. Mas sugiro que se inverta a questão. Que se discuta em primeiro lugar a vocação golpista da mídia latino-americana. E por que isso? Porque não é normal grandes jornais ou emissoras de tevê promoverem golpes para derrubar governos. Já as recaídas autoritárias de governantes fazem parte da normalidade política, mesmo na democracia. Kennedy, por exemplo, impediu o New York Times de revelar os preparativos de invasão de Cuba. Um Chávez mandão é o normal na esfera política. Uma mídia golpista é o patológico na esfera da comunicação jornalística. Essa é a aberração que nos cabe discutir. Essa é a nossa agenda. A mídia golpista prefere, é claro, a agenda "Chávez, o autoritário".

A grande mídia já foi colaboracionista, como se viu na França durante a ocupação nazista, é quase sempre chauvinista em momentos de guerra, fechou os olhos a violações de direitos humanos por necessidades do imperialismo, como fez o New York Times com as atrocidades dos militares em El Salvador, e como faz a CNN agora no Iraque. Foi leniente com as ditaduras latino-americanas na época da Guerra Fria, mesmo as mais atrozes.

A grande mídia levou Nixon à renúncia, no escândalo Watergate. Mas quem estava tramando um golpe ali era Nixon, e não a mídia. Nesse episódio, a mídia americana demonstrou uma notável vocação antigolpista, isso sim. Frustrou uma tentativa de golpe. A grande mídia Ocidental não articula a derrubada de seus próprios governos, democraticamente eleitos. A grande imprensa Ocidental pode ser em geral conservadora e sem dúvida se constitui no grande mecanismo de domínio pela persuasão. Mas desempenha esse papel de modo contraditório, com altos e baixos, também informa bastante, é critica, e freqüentemente se rebela, passando a exercer uma função contra-hegemônica, como na cobertura da guerra do Vietnã.

Isso de golpe pela mídia só mesmo na América Latina. O conceito nem se aplica à mídia européia ou americana. Mas aconteceu no Chile, em 1973, no Brasil, em 1954, e na Venezuela de Chávez, além de tentativas mal-sucedidas, como o golpe da Globo contra Brizola na eleição para o governo do Rio de Janeiro, e os episódios "paragolpistas" da edição de debate Collor-Lula pela Globo na nossa primeira eleição direta para presidente depois da ditadura.

E por que a grande imprensa latino-americana é golpista? Porque é uma mídia de grandes famílias, originalmente os grandes proprietários de terras. Eles e seus sucessores dominam o aparelho de Estado, definem as políticas públicas, ora repartindo o poder com os bancos, ora com uma incipiente burguesia industrial, mas são sempre eles. Não por acaso, a maior bancada do Congresso Nacional é a bancada ruralista.

Essa elite nutre uma visão de mundo composta por três elementos principais: subserviência ao poder maior, que é o poder dos norte-americanos na região, como forma até mesmo de auto-proteção; 2) resistência a todo e qualquer projeto nacional; 3) desprezo pelo povo. Essa é a burguesia que nos coube na divisão do mundo promovida pelos Europeus durante a expansão mercantil e colonização do Novo Mundo. É a burguesia de uma economia dependente. Atavicamente antinacional e elitista.

Sua imprensa tem função muito mais ideológica do que informativa. Quando surge um governo com propostas de desenvolvimento autônomo e distribuição de renda, faz de tudo para derrubá-lo. Instala-se uma guerra. Primeiro tenta evitar que seja eleito. Daí o forte engajamento nas campanhas eleitorais contra os candidatos nacionalistas ou portadores de propostas transformadoras. Depois parte para o pau em conluio com militares golpistas. Foi assim com Getúlio, Allende. Até Juscelino, que deu um chega-pra-lá no FMI e tinha um projeto de país, foi bombardeado pela grande imprensa. O que ela quer são governos que privatizam, desnacionalizam, entregam, são entreguistas. Não por caso, combate ferozmente a política externa de Lula. Preferem a Alca. Chama isso de realismo político, mas é apenas subserviência. Necessidade de ser dependente. Tem pavor de projetos de autonomia nacional e mais ainda de propostas de unidade latino-americana. Nem o Mercosul engoliram.

Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de "populista". Isso ficou muito claro na Revolução de 30. Mesmo no bojo dessa revolução que deveria marcar o fim da hegemonia agrário-exportadora, Getúlio aplicou a censura prévia, rígida e abrangente, sobre todos os meios de comunicação e produção artística e cultural, a ainda teve a precaução de cooptar a maior cadeia de rádio e de jornais da época, a dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Não foi o autoritarismo de Getúlio, assim como não é o de Chávez, que geram o antagonismo da mídia oligárquica. É o caráter nacional-desenvolvimentista de seus projetos políticos. Tanto é assim que, quando Getúlio voltou ao poder pelo voto, sofreu intenso bombardeio e, de novo, entendeu que o combate à mídia oligárquica era essencial á sua sobrevivência. Apenas mudou de tática. Estimulou Samuel Wainer a fundar a cadeia Última Hora. O fato é que a grande imprensa tem sido arma recorrente dos golpistas. Usa o pretexto principal da luta contra a corrupção, seduzindo com isso a classe média recalcada, mas seu verdadeiro objetivo tem sido sempre o de derrubar o estado nacional-desenvolvimentista. Quando toda a região abandona o Consenso de Washington em busca de um novo modelo que alie desenvolvimento com redistribuição de renda, agora com o reforço da unidade continental, a vocação golpista da mídia latino-americana torna-se um dos problemas centrais da democracia. Chávez deve ter feito esse diagnóstico. E partiu para a guerra. Com as armas que tinha, no contexto atual, dentro das regras do jogo. Dividiu a oligarquia da imprensa, cooptando Cisneros, dono do maior conglomerado de mídia e, não renovando a concessão da RCTV, como que sinalizou aos demais o que lhes pode acontecer se saíram da linha.

Resolveu o seu problema, ou talvez só tenha ganhado tempo. Nós continuamos com o problema maior, permanente, da vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.

Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de "A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro" (1996) e "As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998" (2000). http://www.cartamaior.com.br/

* texto enviado por Moisés Augusto em 19 dew outubro de 2007.

O vadio e pedinte da alma!


Como primeiro post, reproduzo abaixo uma poesia genial, que resume muito bem as sensações cotidianas da vida. O que busco aqui é trocar experiências e apresentar reflexões sejam elas já existentes ou releituras. Espero que gostem e comentem!

"Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!


Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!

Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido".

Heterônimo Álvaro de Campos - Fernando Pessoa