quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A farsa é de quem?

Me lembro bem. Era domingo quando ouço minha mãe chamar e me mostrar o que estava estampado na capa da revista Veja naquela semana. "Che, a falsa do herói". Foi um misto de sensações que transpunha raiva, desprezo e indagações do tipo: nossa, não tem ninguém mais para atacarem? Agora partiram para os nossos ícones?
Fui tentar ler a reportagem com um saco de vômito ao lado. Consegui chegar ao final. Meu Deus, quando "baboseira" e “verdades” sem contexto algum. E o pior, tentaram fundamentar a matéria sensacionalista e cretina na biografia de Jon Lee. Minha sensação era que "o tal Diogo" não havia lido sequer uma linha da biografia.

Bom, o tempo passou, algumas manifestações contrárias, muitas outras não... até que me deparo com esta carta abaixo, desmoralizando e tirando qualquer credibilidade da reportagem, se é que existia algo que se pudesse acreditar. Eles tentam, e muitas vezes conseguem manipular muitas coisas e pessoas, mas por favor, não duvidem da capacidade de indagação e questionamento do povo.

Não lembro de quem era a frase, mas lembro do Prof. Moisés que sempre me dizia: " Você pode enganar todos por um tempo. Você pode enganar alguns o tempo todo. Mas nunca enganará todos por todo o tempo ".

Tirem suas próprias conclusões.





O que o biógrafo de Che escreveu para o jornalista da 'Veja'

O repórter Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, foi procurado há umas semanas pelo também repórter Diogo Schelp, da Veja. O objetivo era uma entrevista curta para a composição da reportagem que saiu na revista a respeito dos 40 anos da morte de Guevara.
A própria revista Veja, na reportagem descreve o livro de Anderson como “a mais completa biografia de Che”.

Anderson respondeu a Diogo mas acabou não sendo procurado. Na semana passada, o veterano repórter de guerra da New Yorker teve acesso e leu a reportagem da Veja. Foi sua a decisão de tornar pública esta resposta a Schelp, que começou a circular por email entre os jornalistas brasileiros.

A original é em inglês — esta que segue é uma tradução:

Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu e-mail. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hipereditorializada, ou uma hagiografia ou — como é o seu caso — uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei por pele e osso na figura supermitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é.

Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista.

No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa-fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,

Jon Lee Anderson.

6 comentários:

  1. mais uma comprovação do excelente nivel de veja!

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  2. Sinceramente? Não sei porque vocês ainda perdem tempo com essa revista. Infelizmente como no caso dessa revista reclamar não adianta nada, o jeito é esquecer que ela existe para não passar raiva.

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  3. VEJA = Sensacionalista, elitista, facista, parcial, partidária, etc, etc, etc, etc, etc...

    Apesar de todas essas "qualidades", continua sendo a revista com a maior venda do país e com um poder de manipular a opinião pública. Nós, pessoas um pouco mais sensatas e menos alienadas, temos o papel de concientizar as demais pessoas a nossa volta da verdadeira "cara" dessa revista!

    Proponho o boicote à VEJA sob o seguinte título: "Leu na VEJA? Azar o seu!"

    Ajudem a divulgar! ;)

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  4. É complicado mesmo, mas ao mesmo tempo, como o Dog falou, acho necessário de alguma forma mostrar isso, expor à todos. É o que tento fazer aqui neste blog.

    Não precisa muita coisa, apenas curiosidade na busca da informação e da realidade dos fatos. Sempre digo que é mais fácil engolir do que mastigar antes a informação, por isso, as coisas se tornam verdades, mesmo sendo visões destorcidas e de interesse de uma minoria.

    Parece chato este papo de ficar martelando uma briga contra Veja, Globo e outros, mas não é uma implicância, reconheço inúmeras qualidades nestes veículos de comunicação, principal o poder de persuasão em grande público. Aí está o perigo, quando este poder é usado de forma tendenciosa, como neste caso da reportagem do Che que cita este post ou por exemplo na campanha Lula x Collor, naquele famoso debate editado do jornal nacional.

    Por isso, é importante e não é uma luta só, expor tudo que acontece de real.

    Ter consciência é o começo.

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  5. Vejam bem, eu não quis dizer que não se deva expor a opinião, ou contestar essa revista horrorosa. Acho importante sim isso que vocês estão fazendo, porém acho que quem lê esse blog e tantos outros "contestadores" não são os leitores de Veja. Ou seja, vai ser muito difícil essa situação, essa influência funesta de Veja, Globo e outros acabar, ou pelo menos diminuir. Sou meio cético em relação a isso. Por outro lado, essa atitude de pelo menos expor o que se pensa é muito louvável, Éder. Vai que um desavisado acessa o blog e através das idéias aqui apresentadas começa a pensar por conta própria? Como você disse, já é um começo.
    Mas o que eu realmente quis dizer no primeiro post é que não adianta lamentar, ficar bravo. Veja é assim desde que entendo por gente e não será agora que irá mudar. Resta a nós concordar, discordar, contestar, o que for. Mas sem stress. De stress, já basta o que me traz as mesas redondas de futebol das emissoras paulistas, hehe. Abraço para o Dog Milani!

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  6. Guga,

    entendi o que você escreveu e concordo também. O meu comentário não foi descordando do seu e sim acrescentando alguma coisa.

    Com certeza quem acessa este "humilde blog" (hehehe) e outros que existem por aí, pensam um pouco diferente.

    É o que já disse aqui várias vezes e sempre digo, é mais fácil engolir do que mastigar, é mais fácil aceitar do que contestar...
    Mas ao mesmo tempo, a democracia é feita de debates e é necessário existir alguém para contestar.

    Aqui estamos.

    Valeu pelos comentários!

    PS.: Quanto as "mesas redondas", está mais feliz agora?

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