quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Povo brasileiro

João é um senhor já com certa idade, que vive em uma casa humilde em um bairro mais humilde ainda de uma cidade do interior. Não se casou, assim como sua irmã Dora, que mora com ele. Sempre diz que até tentou, mas nunca encontrou o verdadeiro amor. Preferiu seguir a vida cuidando da irmã, um pouco mais nova.

A vida nunca abriu os braços para João, saiu de casa cedo e foi ganhar o mundo com trabalho, suor e desilusões. Seguindo seus passos, Dora. Muito trabalho, portas fechadas e poucas oportunidades.
Essa poderia ser a história de José, Carlos, Celso, Maria, Lúcia, mas é a história de João e Dora, que assim como muitos brasileiros, sobrevivem em meio à falta de perspectivas e tentam vencer em um país de miseráveis.

Além da companhia constante de Dora, outra nunca te abandonou, o sorriso.
O amor pela vida e a simplicidade marcaram a vida de João, que jamais se esquivou para as adversidades do caminho e sempre com o peito cheio de amor e dedicação, fez amigos por onde passou. Desde a infância pobre na roça, até os dias atuais, em uma pequena casa na periferia da cidade pequena. Ele costuma dizer que este é o remédio para o vida, e além de tudo, nem precisa comprar.

E assim foi levando a vida, entre uma desilusão e outra, um sorriso no olhar e a humildade de sempre. Pôde, depois de certa idade, sobreviver com a pequena aposentadoria. Dora cuida da casa e do papagaio Tico, amigo inseparável há anos. Todas as noites encontram os vizinhos na “Cozinha Comunitária”, o jantar servido na associação do bairro é aguardado como uma criança que espera o presente de natal. João em meio às gargalhadas sempre diz a Dora: “Coloque a melhor roupa que vamos jantar fora...”.

O sorriso aberto dos dois é o cartão de visitas de quem vai conhecê-los em sua casa. O café quente, feito em uma panela de ferro e fogão à lenha é servido como a mais nobre iguaria ao visitante. As histórias e vivências são relatas com orgulhos pelos dois.
O abraço apertado e o “volte sempre” são a certeza que a vida ensinou muita coisa para eles, principalmente o espírito de igualdade e sinceridade no olhar de quem sofre, luta, mas nunca perde a ternura.




Os nomes são fictícios, assim como parte da história. A foto e a outra parte são reais. Este post é dedicado a Pedro de Carvalho e a Associação dos Vicentinos de Campo Belo, que além de prestarem um serviço maravilhoso a comunidade, me deram a oportunidade de conhecer pessoas como estas.

3 comentários:

  1. Muito legal o que você escreveu, é aí que notamos a importância deste trabalho. Sabemos que essas atividades não resolvem definitivamente os problemas sociais, que, têm sua origem na distribuição da renda no país. Porém, servem para amenizar a situação de calamidade de muitas famílias, dando comida a quem não a tem, e principalmente oferecendo esperanças e perspectivas de uma vida melhor para muitas pessoas.

    ResponderExcluir
  2. Mais um belo texto, muito tocante. Nos faz refletir porque essas pessoas aparentemente tão sofridas, e tão castigadas pela vida, são tão perseverantes, superam tantos obstáculos. E conseguem apesar de tudo, ser muito felizes. Ao passo que muitos de nós, desanimamos na primeira dificuldade, ficamos tristes por nada, estressamos à toa. Será que no frigir dos ovos, aqueles que não têm "nada" sabem a fórmula para se ter tudo o que realmente importa?

    ResponderExcluir
  3. Escreves bonito. Parabéns! Ver uma pessoa é ter um outro olhar. Cada um vê o que quer ver. O importante é ver a beleza mesmo quando a realidade teima em se mostrar vilã. O despojar-se, o entender o aqui e agora, é a arte que precisamos aprender para vivermos mais felizes. "A vida é um sonho e tudo se vai..." Pablo Milanes. Milani como você. Talvez seja isso, não ficar preso a coisas, mas interiorizar-se em sabedoria.
    Obrigado

    ResponderExcluir